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Mangá: O Incidente de Darwin

Foto do escritor: Bianca VicenteBianca Vicente

Você certamente já viu por aí uma imagem de um painel de mangá onde há um bebê com rosto de um macaco, com um balão de fala ao lado dizendo “ele é um híbrido de humano com chimpanzé. Ele é…” (insira o nome de qualquer coisa). Tirando esse meme zombeteiro e até mesmo ofensivo, muita gente não sabia de onde vem tal painel e nem seu contexto, isto até o anúncio de adaptação em anime do mangá de onde veio o painel, “Darwin Jihen” (“Ou como ficou conhecido no Brasil, “O Incidente de Darwin”). Agora é hora então de conhecer um pouco desta obra além do meme.


A história começa com uma invasão a um instituto de pesquisas biológicas por um grupo

paramilitar associado a uma organização eco terrorista conhecida como Aliança de Libertação Animal (ALA), de onde resgatam uma chimpanzé grávida. Pouco tempo depois ela dá a luz ao que chamamos de “Humanzé”, o tal híbrido de DNA humano com de um

chimpanzé. Batizado de Charlie, que é criado “como humano” em um local isolado por

15 anos até ingressar no Ensino Médio, onde conhece a jovem Lucy, com quem cria laços de amizade.

Assim segue esta jornada de um protagonista incomum mas cheio de nuances. Afinal, ele foi criado como humano, mas o que é ser “humano”? Charlie é realmente “humano”? Estes questionamentos guiam nosso protagonista, que posso dizer tranquilamente que é um dos mais bem feitos em um mangá. Afinal, Charlie não tem muita certeza de quem é ou o que fazer, pois enquanto ainda quer viver uma vida como humano, seus instintos animais ainda agem, além de lidar com certas rejeição e curiosidade por parte das pessoas ao seu redor.

Ao mesmo tempo, ele ainda lida com poderosos grupos que querem controlar seu destino, o colocando em constantes atritos com sua natureza e com as pessoas importantes ao seu redor. Se torna angustiante ao se perceber que dentro de todos os problemas que

acompanham Charlie, está principalmente a sua solidão. Charlie é o único de sua espécie e não se encaixa nem entre os humanos e nem sobre os animais. Essa espécie de neutralidade acaba dando a suas palavras e suas dúvidas um peso enorme, tornando a história de Charlie em uma verdadeira busca pela individualidade, pelo seu “eu”: o que nos torna humanos de verdade? O que nos diferencia dos macacos? O que nos define como indivíduos? O que significa ter liberdade?


Em paralelo a esta incrível jornada de autoconhecimento de Charlie, temos os avanços da ALA que cada vez mais se torna violenta em seus atos terroristas, colocando em risco até mesmo a vida do nosso protagonista. A forma como os antagonistas são desenvolvidos junto de sua motivação também se tornam um soco no estômago; ora, são terroristas sim, eles matam vidas inocentes de pessoas que querem apenas ficar em paz, contudo esses terroristas visam justamente mudar uma sociedade já à beira do colapso devido às mudanças climáticas cada vez mais presentes; em outras palavras, a causa principal do grupo é justamente em prol da natureza e dos animais, atingindo o perigo que é… O Humano.


Isso tudo torna O Incidente de Darwin uma leitura sufocante em muitos momentos e,

principalmente, reflexiva. Sem representar o humano como um inimigo exagerado e caricato, a obra apresenta uma visão realista de nós mesmos e nos convida a todo momento refletir sobre nosso papel na Terra e o que nós fizemos até agora. O que nos torna diferentes de outras criaturas que habitam a Terra? Até onde o nosso “complexo de superioridade” em relação à natureza e aos animais irá nos levar a um iminente fim?


Com o anime vindo, espero do fundo do coração que ajude a direcionar mais holofotes a obra. Como o mangá ainda não se encerrou, fico curioso sobre como Umezawa irá amarrar todas as pontas e dar um final satisfatório que consiga lidar com toda a cadeia complexa criada em torno de Charlie e demais personagens.


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